HISTÓRIA DO SEMINÁRIO DE SÃO JOSÉ

O Concílio de Trento, na sua última sessão (15-06-1563), reformou o modelo formativo do clero secular, recomendando a criação de seminários em cada diocese. Face às dificuldades na sua execução, a Santa Sé permitiu que a formação fosse confiada aos Jesuítas nas dioceses onde a Sociedade da Companhia de Jesus tivesse colégios. No Algarve, os colégios de Faro e Portimão assumiram essa tarefa. Todavia, a expulsão da Companhia de Jesus (1759) trouxe a necessidade de uma resposta: a fundação do Seminário.

Findas as interferências do governo pombalino na vida diocesana do Algarve, D. André Teixeira Palha (1783-1786), ainda na qualidade de Coadjutor de D. Frei Lourenço de Santa Maria (1752-1783), publicou o currículo formativo dos futuros clérigos e instituiu no Paço Episcopal um curso trienal de aulas eclesiásticas. O seu sucessor, o oratoriano D. José Maria de Melo (1787-1789), deu continuidade ao projeto e criou condições que possibilitassem a construção de edifício próprio e a fundação do Seminário. Esta tarefa coube ao seu sucessor, também oratoriano, D. Francisco Gomes do Avelar (1789-1816).

Francisco Gomes do Avelar começou por promover a construção do edifício confiando ao arquiteto italiano Francisco Xavier Fabri o projeto, o qual aliava a novidade do neoclassicismo às exigências funcionais de um seminário. Em 1796, D. Francisco convidou para formadores dois religiosos italianos da Congregação da Missão, os Padres Ansaloni e Maffei, que voltavam de Goa, onde tinham instalado um Seminário. Por sua vez, a parte do Seminário de Faro já edificada permitia o funcionamento com um pequeno grupo de seminaristas. Assim, no domingo 8 de Janeiro de 1789 abre o Seminário tendo como padroeiros São Filipe Neri e São Carlos Borromeu. Foram 12 os primeiros seminaristas, à semelhança dos primeiros apóstolos, conforme a vontade expressa do Bispo fundador. Em 1806, com a construção do refeitório, as obras ficaram concluídas.

 

 

Logo após a sua fundação, o Seminário conheceu dificuldades decorrentes das vicissitudes da época – invasões francesas, Revolução Liberal, implantação do Liberalismo e Guerras Civis – as quais interromperam ou alteraram o projeto inicial. Durante o episcopado de D. Bernardo António de Figueiredo (1824-1838) sucederam-se: uma reforma que visava subordinar a formação sacerdotal aos objetivos políticos e sociais do constitucionalismo, desfigurando a finalidade inicial; a perda dos meios de subsistência; a deficiente administração dos bens; o encerramento, em 1834, interrompendo a formação sacerdotal; e a instalação no edifício de militares em trânsito entre Tavira e Lagos.

No ano seguinte, o Pároco de Santa Maria de Lagos, Pe. António da Costa Inglês, formado na escola de D. Francisco Gomes, começou a receber em sua casa candidatos ao ministério sacerdotal aos quais leccionou o programa formativo inicial. Em 1844, apresentou 4 candidatos que o Bispo D. António Bernardo da Fonseca Moniz examinou, considerando-os competentes e tendo-os ordenado no ministério sacerdotal.

O Seminário do Algarve foi refundado pelo Bispo D. Carlos Cristóvão Genuês Pereira (1855-1863) passando a ter como padroeiro São José. O Seminário reabre a 12 de Outubro de 1856 com 24 alunos, recebendo novos estatutos e modelo formativo.

 

António Mendes Belo (1884-1908) e, em continuidade, D. António Barbosa Leão (1908-1919) dedicaram particular atenção ao Seminário: promoveram a qualidade formativa, intelectual e humana; acompanharam com proximidade os seminaristas; e melhoraram as condições do edifício, nomeadamente no que se refere a higiene e salubridade.

A implantação da República interrompeu este dinamismo. O edifício foi confiscado para instalação de aquartelamento militar. Seminaristas e formadores foram expulsos. Num primeiro, momento D. António Barbosa Leão recebeu-os no Paço. Mas a sua ocupação exigiu a transferência para outros espaços na proximidade da Sé, até se fixar na Rua do Município, em edifício adaptado para o efeito, onde nas últimas décadas tem instalada a Polícia Judiciária.

 

Em 1933, sendo bispo do Algarve D. Marcelino António Maria Franco (1920-1955), algarvio, antigo seminarista, formador e reitor, foi devolvida uma parte do edifício. E, em 1940, foi então entregue a restante: o Seminário diocesano regressava à sua casa. Houve necessidade de realizar um programa de obras de conservação (1941), para adaptação à vida dos seminaristas e para residência episcopal, que continuava na posse do Estado Português. O percurso formativo ia desde o início do secundário até ao estudo da Filosofia e da Teologia. Dificuldades e deficiências de vária ordem exigiram a transferência dos alunos dos cursos filosófico-teológicos para o Seminário Maior de Évora. Depois, viriam também a frequentar os Seminários do Patriarcado Lisboa.

Francisco Fernandes Rendeiro, nomeado Coadjutor em 1953 (Bispo residencial de 1955 a 1965), imprime um novo dinamismo ao Seminário: promove uma pastoral vocacional diocesana, acolhe jovens candidatos vindos de outras regiões do país e inova o modelo formativo ao projetar um seminário liceal.

Presente na última sessão do concílio Vaticano II, D. Júlio Tavares Rebimbas (1965-1972) continua o trabalho e o projeto do seu antecessor: realiza obras que modernizam o edifício, adaptando-o às novas necessidades.

Porém, no episcopado de D. Florentino Andrade e Silva (1972-1977) o Seminário atravessa graves dificuldades. Na sequência do 25 de Abril de 1974 encerra e o edifício é usado para acolher deslocados das antigas colónias.

O Bispo D. Ernesto Gonçalves Costa (1977-1988) toma uma série de iniciativas com o objetivo de reabrir o Seminário. Recupera o edifício e moderniza as instalações para futuro funcionamento de um seminário menor. Ao mesmo tempo, envia seminaristas para o Seminário Menor de Vila Viçosa e, juntamente com os bispos de Évora e Beja, funda o Instituto Superior de Teologia de Évora. Em 1983 reabre o Seminário São José da Diocese do Algarve, vindo os alunos a frequentar as escolas secundárias da cidade de Faro.

Com D. Manuel Madureira Dias (1988-2004), em 1990 os seminaristas passaram a ter aulas no Seminário, pois fora concedido o paralelismo pedagógico. Esta situação manteve-se enquanto as condições permitiram. Ao mesmo tempo, foi estruturado e promovido o Pré- Seminário em toda a Diocese.

Nos anos mais recentes, sendo Bispo D. Manuel Neto Quintas, por decisão dos Bispos da Província Eclesiástica de Évora, no Seminário de Faro passa a funcionar o Ano Propedêutico para os alunos das três dioceses e de outras dioceses estrangeiras (PALOP), continuando a receber candidatos ao sacerdócio a partir do 10º ano.

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Arquivo Histórico da Diocese do Algarve, Faro.

Arquivo do Seminário de São José da Diocese do Algarve, Faro.

Athaíde Oliveira, Francisco Xavier de. Biografia de D. Francisco Gomes do Avelar, Arcebispo-bispo do Algarve, Porto, 1902.

Athaíde Oliveira, Francisco Xavier de. Memorias para a historia ecclesiastica do Bispado do Algarve, Porto, 1908.

Cabrita, Pe José. História Breve do Seminário Episcopal de São José de Faro, Faro, 1985.

Cabrita Júnior, Pe José. O Bispo Santo D. Francisco Gomes do Avelas, Faro, 1940.

Maria Franco, A. M. e Teixeira Guedes E. A. Primeiro Centenário de D. Francisco Gomes do Avelar, Faro, 1916.

Palma, Patrícia de Jesus. O Reyno das Letras: a cultura letrada no Algarve : o lugar do impresso (1759-1910), Faro, 2019.

Silva Lopes, João Baptista da. Memorias para a historia ecclesiastica do Bispado do Algarve, Lisboa, 1848.